Esta “viagem” aconteceu fisicamente entre os dias 7 e 12 de Setembro de 2011, mas, a nível espiritual, espero que os seus efeitos se façam sentir durante toda a minha vida!

Antes de mais, é preciso contextualizar este espaço… Um dos motivos pelos quais quero imortalizar “interneticamente” o registo desta caminhada prende-se com a minha vontade em manter acesa a chama das memórias desta experiência inesquecível. E como vivemos na era da tecnologia, e sendo eu uma blogueira inveterada, encontrei aqui a melhor ferramenta para o fazer. Por outro lado, com este blogue, gostaria de poder transmitir o testemunho para que outras pessoas, que pensem fazer o mesmo, encontrem nestas linhas resposta a algumas das suas muitas perguntas, conforto quando sentirem receio ou ansiedade e, sobretudo, ânimo para que consigam levar este objectivo até ao fim.

Independentemente dos motivos pelos quais as pessoas decidem ir em peregrinação a pé a Fátima, evidentemente que nenhuma delas o fará de ânimo leve, com certeza. Posso dizer que esta minha viagem foi uma “Caminhada de Fé”, porque só acreditando em algo muito forte é que é possível executar uma decisão destas. Eu acredito em Deus e na Nossa Senhora de Fátima, mas acredito também no amor, na amizade, nas pessoas, na bondade, nos laços, nos gestos, na determinação e na força de vontade. E se, dada a conjuntura actual, ainda consigo acreditar em tudo isto, não terei motivos mais do que suficientes para agradecer? Foi graças a tudo isto que consegui fazer 190 Km em 5 dias, sem postos de enfermagem de apoio ao peregrino, sem fazer bolhas ou feridas nos pés, sem ter dores nas pernas, sem verter uma única lágrima de dor, sob o calor tórrido de um verão retardado, do cansaço e das dores nos pés e sem, em momento algum, sentir arrependimento ou vontade de desistir.

Evidentemente que, aos olhos de quem nunca passou por esta prova, estas palavras não apresentam grande relevo, são quase frases feitas, mas a verdade é que desde que pus o pé na estrada se instalou em mim uma única vontade, a de chegar a Fátima, sem margem para fraquezas - e só quem passa por esta experiência é que sente a verdade disto.

Tendo tudo isto em conta, quando o momento da partida se tornou mais próximo (e irreversível, também), decidi que o havia de partilhar com as pessoas mais importantes e, uma vez mais recorrendo à grande rede, criei um grupo no Facebook (Grupo Caminhada de Fé), que viria a funcionar não apenas como um diário, mas também como uma esponja de carinho e um receptor de boas energias, patrocinados pelos amigos e pela família. Não seria por irmos apenas dois a "peregrinar" que nos iríamos sentir sozinhos, porque sabíamos que do lado de cá tínhamos uma equipa de fãs a torcer por nós e a enviar-nos telepaticamente boas vibrações. E só tenho a dizer uma coisa: F-E-N-O-M-E-N-A-L!!! É nestas alturas que percebemos que somos queridos por muita gente e que essas mesmas pessoas são da maior importância para nós. Por este motivo, é recorrente neste blogue o aparecimento de citações daí retiradas.

"190 km em 5 dias??? (Diz o maridão que são 186km em 4 dias, o sonhador!) Onde estávamos nós com a cabeça quando decidimos que nos iríamos superar a nós próprios com uma prova destas? Bem... Ficam aqui os registos dos preparativos, das ansiedades, das histórias e das metas alcançadas (se houver força...)."

Gostaria de finalizar partilhando aqui o quão importante esta experiência foi para mim. Estava completamente inundada de medo: medo de ter muitas bolhas, medo de ter muitas dores, medo de querer desistir, medo de não conseguir chegar, medo do próprio medo que tinha... E algum deste medo era a projecção de outros medos anteriores: medo de decidir, medo de me comprometer, medo de sair da zona de conforto, medo de falhar. Por tudo isto, esta Caminhada de Fé, além de consolidar todas as minhas crenças, acima descritas, possibilitou-me encontrar algo que procurava há muito tempo e que estava com dificuldade em encontrar (ou simplesmente em perceber que sempre esteve comigo, sem que o enxergasse): permitiu-me ACREDITAR EM MIM, na minha força espiritual, na minha força física e nas minhas capacidades. E, "acreditem", isso foi a maior vitória de todas!